A descoberta de possíveis novas espécies do gênero Ameroglossum expande o conhecimento sobre a biodiversidade endêmica do Nordeste
Juliana Cavalcanti
Pesquisadores recentemente descobriram evidências que indicam a presença de até três novas espécies de planta no interior de Alagoas pertencentes ao gênero Ameroglossum (Linderniaceae, Lamiales) A descoberta, que desperta grandes expectativas na comunidade científica, amplia o conhecimento sobre esse gênero de plantas endêmicas do Nordeste brasileiro, conhecido desde 1999, e traz à tona novas questões sobre a biodiversidade da região.
Apesar do tempo, foi somente quase 20 anos depois que novas espécies começaram a ser descritas. Em 2016, a segunda espécie do gênero foi registrada e batizada como Ameroglossum manoel-felixii em homenagem ao professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Manuel Félix. Já em 2020, o professor Leonardo Pessoa Félix, junto com sua equipe, publicou a descrição de mais sete novas espécies do gênero, consolidando ainda mais a relevância do gênero na flora nordestina.
A mais recente descoberta em Alagoas gerou grande entusiasmo entre os pesquisadores, que agora estão consultando materiais do Herbário MAC e realizando trabalhos de campo para confirmar a existência dessas novas espécies. As características únicas das plantas encontradas no interior do estado, como a coloração das flores, o tom das folhas e o formato de crescimento, são os principais indicadores para a possível identificação de novas espécies.
No entanto, como alerta o doutorando Joel Cordeiro, da UFPB, apesar da recente descoberta, muitas das espécies do gênero Ameroglossum já se encontram ameaçadas de extinção “São vítimas especialmente dessas mudanças climáticas que vêm ocorrendo por todo o planeta, vítima também de herbivoria de caprinos, bovinos, e também da exploração inadequada desses afloramentos rochosos para extração de matérias rochosas, pedreiras, que ameaçam essa diversidade. Talvez até espécies novas do gênero corram o risco de desaparecer antes mesmo de serem descobertas ou descritas pela ciência”, explicou Cordeiro.
O apoio do Herbário MAC foi crucial para a realização dessas descobertas. Rosângela Lemos, gerente do Herbário, destaca a importância de uma coleção científica bem estruturada e organizada. “ É só através de uma coleção científica como essa, bem referendada, bem cuidada, bem organizada, que a gente pode ter os respaldos, essas respostas que podem ser dadas a pesquisadores que, de alguma forma, descobrem novas espécies, discorrem sobre essas plantas que ocorrem no Nordeste, no Brasil, no mundo. Assim, cada vez mais a gente fica mais satisfeito com a vinda desses pesquisadores. Porque a gente sabe que a gente pode contribuir com a ciência alagoana”, disse.
Leonardo Félix agradeceu pelo apoio dos profissionais do Herbário MAC. “Eu fiquei gratamente surpreso com a estrutura, com o tamanho, com a organização deste herbário que eu estou agora, o Herbário MAC. A curadora está de parabéns. O esforço não só da curadora atual, mas das pessoas que fundaram esse Herbário e das pessoas que virão ainda para frente, enriquecendo cada dia esse acervo”, disse Leonardo.
Com a colaboração dos pesquisadores e a estrutura do Herbário MAC, as novas descobertas têm o potencial de revelar ainda mais sobre a flora do Nordeste e de contribuir para a preservação de espécies ameaçadas. A pesquisa continua, com a esperança de que, por meio da ciência, seja possível garantir a proteção da biodiversidade única dessa região.