O ecossistema é exclusivo do Brasil e abrange 44% do território de Alagoas
Janderson Oliveira
No dia 28 de abril é comemorado o Dia da Caatinga, ecossistema predominante no sertão nordestino. Neste dia, o Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL) ressalta a importância desse bioma exclusivo do Brasil. A caatinga abrange cerca de 44% do território do Estado e apresenta uma biodiversidade muito maior do que aparenta pela imagem da seca.
O IMA desempenha trabalhos com ênfase no sertão que devem culminar em breve na Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Caiçara. Será a segunda maior unidade de conservação do Estado, aumentando em dez vezes a porcentagem de território da caatinga protegida pelo órgão.
Até mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
Luiz Gonzaga relata na música Asa Branca que a espécie precisa migrar durante o período de seca do sertão. Não à toa, a fauna da caatinga é conhecida pela resistência diante das adversidades geográficas.
Algumas espécies de mamíferos são compartilhadas com outros biomas, mas apresentam hábitos alimentares e comportamentais distintos no sertão, a exemplo da onça parda da caatinga, ameaçada de extinção.
A flora também se manifesta em diversas formas, dentro dos microssistemas da caatinga. As espécies apresentam em comum a estratégia de sobrevivência à seca que dá nome ao bioma. “Caatinga” significa “floresta branca” em língua tupi-guarani, pois as árvores perdem as folhas e embranquecem o tronco em época de estiagem.
Ações do IMA na Caatinga
A atuação de órgãos ambientais no sertão, historicamente, encontra dificuldades. Muitos crimes são considerados costume entre a população sertaneja, é o que relata Epitácio Correia, gerente de Fauna, Flora e Unidades de Conservação do IMA.
“Nas ações integradas de fiscalização vemos com frequência a ocorrência de crimes ambientais no sertão, pois são costumes passados de geração a geração”, revela sobre supressão de vegetação nativa, produção de carvão e caça de animal silvestre.
O IMA mantém com regularidade a fiscalização com equipe dedicada à região. O aumento das respostas do órgão em atendimento de denúncias permite à população desmitificar a impunidade em infrações ambientais.
O Instituto também compõe o Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Caatinga. O programa guarda por 35 espécies de aves ameaçadas de extinção. É uma iniciativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), para que aves, como o Pintassilgo-do-nordeste, possam voltar a povoar o sertão sem o atual risco iminente de caça.
“É comum ver pássaros raros em cativeiro doméstico, sem poder reproduzir, mas também conseguirmos notar que as gerações mais novas têm uma consciência mais formalizada no sentido de meio ambiente”, complementa Epitácio.
Para isso, é necessário trabalhar a educação ambiental dos mais jovens, afirma Ykson Emery, assessor ambiental da equipe da Gerência de Educação Ambiental do IMA.
“Buscamos sempre elaborar atividades que possam envolver a comunidade e instituições locais. Atividades como a construção de fossas agroecológicas, com a participação de alunos e professores; distribuição e plantio de espécies nativas através do Projeto Alagoas Mais Verde; trilhas para visitação guiada no Refúgio de Vida Silvestre dos Morros do Craunã e do Padre, Unidade de Conservação estadual; gincanas ecológicas nas escolas e etc”, detalha.
São ações que promovem regeneração do bioma e a melhor convivência do povo sertanejo com a Caatinga. Pois, entre a floresta branca, que às vezes pode parecer morta por sua aparência, o ecossistema guarda uma grande biodiversidade.
Sob esse conhecimento, o Herbário MAC do IMA realiza pesquisas sobre a flora sertaneja e registra espécies inéditas em expedições. Em 2016, os consultores do órgão encontraram uma espécie rara conhecida popularmente como Jatobá-mirim (Guibourtia hymenifolia (Moric.) J.Léonard) no município de Delmiro Gouvia. A expedição, organizada junto ao Inventário Florestal Nacional (IFN), possibilitou a coleta da espécie nunca antes citada no acervo científico da flora de Alagoas.
Área de Proteção Ambiental da Serra da Caiçara
O trabalho do IMA no sertão alagoano proporcionará um importante marco em breve. A Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra da Caiçara é fruto da parceria com a Universidade Federal de Alagoas (Ufal), que apontou a necessidade de uma Unidade de Conservação na região.
A APA irá possibilitar ao IMA atuar com mais ações sobre as infrações comumente cometidas na região, comenta Alex Nazário, assessor ambiental da Gerência de Fauna, Flora e Unidades de Conservação. “Teremos maior capacidade para responder aos desafios da região. São infrações de remoção da cobertura vegetal nativa, caça e coleta de espécies animais, além da expansão agropecuária sem critérios relativos à conservação do solo”, relata o geógrafo.
A criação da APA tem como objetivo combater as causas dos sinais já críticos de degradação ambiental que podem ser percebidos nas alterações verificadas nos seus processos ambientais e serviços ecossistêmicos, refletidos na perda de biodiversidade, na crescente indisponibilidade dos recursos hídricos e no processo da desertificação de áreas anteriormente conservadas.
A APA da Serra da Caiçara irá abranger os municípios de Santana do Ipanema, Poço das Trincheiras, Maravilha, Ouro Branco e Canapi. Sua área equivalente a 103.787,28 ha tornará a APA a segunda maior UC terrestre de Alagoas.