Situação é uma das piores já encontradas em Alagoas e reúne péssimas condições de criação e manejo; juntas, as autuações somam R$ 497.720 mil
Clarice Maia / Ascom IMA
Uma das maiores infrações ambientais relacionadas à fauna já presenciada em território alagoano. Assim é possível resumir a situação encontrada por equipes do Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL) em um criatório de jacarés-de-papo-amarelo, em Fernão Velho, Maceió. As autuações somadas chegam a R$ 497.720 mil.
A operação teve início na quarta-feira (8) e prosseguiu nessa sexta-feira (10), devido à quantidade de problemas encontrados. Foi preciso montar uma verdadeira força-tarefa com técnicos dos setores de Fiscalização, Laboratório, Fauna e Unidades de Conservação para tentar buscar uma solução para os animais que ainda estão vivos.
Foram encontrados 144 jacarés, sendo 139 vivos e cinco mortos. Os vivos em situação de total abandono. Os animais estavam visivelmente submetidos a uma situação de maus tratos: em confinamento, sem alimentação, sem manejo adequado e sem água.
Além disso, o empreendimento ainda está localizado dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Catolé e Fernão Velho. Os fiscais aplicaram três autos de infração: por maus tratos, no valor de R$ 432 mil; por operar com licença ambiental vencida, em R$ 32.860 mil; por captar água de modo irregular, sem outorga, em mais R$ 32.860 mil.
Além disso, também foi emitida uma intimação para apresentar cronograma de desmobilização do empreendimento.
A equipe de laboratório, por sua vez, constatou no local que os tanques estão com baixo nível de oxigênio dissolvido na água. “Excesso de carga orgânica, pelo ambiente eutrofizado, e a presença de materiais flutuantes. Essas características no ambiente aquático podem ser fatores que contribuíram para o comprometimento dos animais. As amostras estão sendo trabalhadas para determinar os parâmetros de coliformes”, explicou Karine Pimental, técnica do Instituto.
Os técnicos relataram ainda que o local estava visivelmente abandonado. Animais mortos, os vivos se alimentando da carcaça dos mortos e um mau cheiro por toda a parte. A ação foi motivada por denúncias e os dois dias da fiscalização mais intensa foram acompanhados por policiais do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA).
Jacaré-de-papo-amarelo
O jacaré-de-papo-amarelo tem o nome científico Cayman latirostris. A exploração, através de criatórios licenciados, é legalmente possível. Entretanto, o manejo deve seguir as orientações técnicas de profissionais especializados.
Segundo a equipe de fauna do IMA/AL, o animal é considerado longevo, podendo viver entre 50 e 70 anos de idade, na natureza. Em criatórios, geralmente, a reprodução e o tempo de vida são controlados. Os técnicos explicam ainda que esses jacarés, quando na natureza, conseguem ficar “bastante tempo sem se alimentar ou se alimentando muito pouco”, disse Epitácio Correia, gerente de Fauna e Flora do IMA/AL.
“Em vida livre, em situação de extrema escassez de alimentos, esses animais conseguem ficar bastante tempo sem comida. Em cativeiro, não se pode usar isso como justificativa para a situação, isso porque, no ato do licenciamento, os empreendedores apresentam todos os manejos a serem realizados com os animais, incluindo o manejo alimentar”.