Técnicos avaliam se existem condições físicas e sanitárias para que os animais sejam retirados do local em que estão
Clarice Maia / Ascom IMA
Especialistas procuram solução para as dezenas de jacarés-de-papo-amarelo que foram encontradas em situação de maus-tratos e abandono. A constatação da equipe de fauna do Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL), após retornar ao local onde havia um criatório, na manhã dessa segunda-feira (13), é que a maioria dos animais está muito debilitada.
Não se sabe se as condições sanitárias podem comprometer animais de outros locais. “É praticamente impossível devolver esses animais à natureza. Primeiro, porque eles não têm condições físicas e, segundo, eles podem servir como vetores de doenças para outras espécieis. Ainda mais quando se considera que eles estão há, no mínimo, seis meses nessa situação de abandono”, comentou Epitácio Correa, veterinário gerente de Fauna e Flora do Instituto.
O veterinário comenta que agora há o desafio de encontrar a melhor forma de atenuar o sofrimento a que os animais estão sendo submetidos. “Estamos buscando todos os possíveis parceiros que possam nos auxiliar a encontrar uma solução. Existe a possibilidade de alguns desses animais serem sacrificados, caso seja constatado que outras atitudes possam prolongar ainda mais o sofrimento deles”, disse.
A equipe da fauna não descarta ainda a possibilidade de o número de animais, vivos e mortos, ser maior do que o identificado na sexta-feira (10), quando foram encontrados 139 vivos e cinco mortos. Isso porque os recintos onde os jacarés habitavam estão cobertos de vegetação e os tanques com grande quantidade de matéria orgânica e proliferação de microalgas.
Infrações
A grave infração ambiental foi constatada entre os dias 8 e 10 de fevereiro, quando, após receber denúncias, técnicos do IMA/AL e policiais do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) encontraram uma situação de total abandono e maus-tratos onde antes funcionava um criatório de jacarés-de-papo-amarelo. Foram aplicadas três autuações que, somadas, chegam a R$ 497.720 mil.
A operação mobilizou técnicos dos setores de Fiscalização, Laboratório, Fauna e de Unidades de Conservação. Além disso, o empreendimento ainda está localizado dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) do Catolé e Fernão Velho.
Também foram emitidas intimações. Em uma delas, a proprietária tem o prazo até essa segunda-feira (10) para dar entrada no IMA/AL com o plano de alimentação dos animais, sob pena de multa. Isso considerando que um dos principais problemas no local é que os animais estão passando fome, os que estão vivos estão se alimentando dos restos dos mortos.
O jacaré-de-papo-amarelo tem o nome científico Cayman latirostris. A exploração, por meio de criatórios licenciados, é legalmente possível. Entretanto, o manejo deve seguir as orientações técnicas de profissionais especializados.
Epitácio Correa explica ainda que “em vida livre, em situação de extrema escassez de alimentos, esses animais conseguem ficar bastante tempo sem comida. Em cativeiro não se pode usar isso como justificativa para a situação, isso porque, no ato do licenciamento, os empreendedores apresentam todos os manejos a serem realizados com os animais, incluindo o alimentar”.