Soltura da ave, considerada extinta em seu ambiente natural, faz parte de um projeto inédito que reúne entidades e pesquisadores da fauna silvestre
Um momento de muita comoção para quem estava presente e para quem acredita na importância da proteção à biodiversidade. Assim é possível descrever a soltura do Mutum-de-alagoas, na manhã dessa quarta-feira (25). Em uma ação inédita, em Alagoas e no Brasil, após mais de quatro décadas a ave retorna para a natureza.
Três casais de Mutuns-de-alagoas chegaram ao Estado no dia 19 de setembro. Eles foram levados para um viveiro de aclimatação construído dentro de um fragmento de mata atlântica. As aves passaram por um processo de adaptação e reconhecimento do ambiente.
Segundo Epitácio Correia, veterinário e gerente de Fauna, Flora e Unidades de Conservação do Instituto do Meio Ambiente (IMA), são seis animais em fase de maturidade sexual, com capacidade para se reproduzir. “São três fêmeas e três machos saudáveis, avaliados e anilhados”, comenta.
No momento ideal, na manhã da quarta-feira (25), o criador responsável pela reprodução dos animais, Roberto Azeredo, da Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre (CRAX), conduziu a soltura do viveiro para a natureza, acompanhado por especialistas, pesquisadores e técnicos, uma pequena e silenciosa platéia que conseguiu acompanhar a saída dos animais do cativeiro.
O primeiro animal a sair devagar começou a inspecionar a natureza. O macho que sairia na sequência ainda demorou um pouco para se sentir seguro, “ele pensa que é um absurdo o que estão fazendo com o outro”, brincou Azeredo mostrando um animal observando o outro que já estava solto.
Mas, bastou saírem todos do viveiro para alçar vôo. Bateram as asas como nunca tinha sido possível, subiram nos galhos das árvores e começaram a observar o ambiente. “Esse momento representa o maior exemplo em prol de uma causa, que foi acreditar no renascimento de uma espécie”, comentou o promotor Jorge Dória, coordenador da comissão de meio ambiente do Ministério Público Estadual (MPE).
O Mutum-de-alagoas foi considerado extinta na natureza há 30 anos e o animal só existia, até o início da quarta-feira(25) em cativeiro.
Projeto
“Esse projeto não tem igual”, afirma Roberto Azeredo, da CRAX. Localizada em Minas Gerais, a entidade que há 20 anos, em agosto de 1999, recebeu e conseguiu dar continuidade ao trabalho de reprodução dos animais que eram criados por um homem chamado Pedro Nardelli.
Nardelli foi o responsável, há pouco mais de 40 anos, pela retirada de três mutuns da natureza para garantir a continuidade da espécie. “temos que lembrar que 40 anos é uma vida”, comentou o ator Vítor Fasano ao falar sobre a importância do exemplo desse tipo de projeto.
Azeredo faz a afirmação porque o projeto conseguiu reunir entidades públicas, da sociedade civil e da iniciativa privada de diversos Estados, entre eles: Alagoas, São Paulo e Minas gerais, além do Distrito Federal.
“Esse momento especial em diversos aspectos, desde a aglutinação de esforços como a introdução do animal na natureza. E uma coisa que acho muito interessante e que nossa equipe de gestão de fauna observa bem é que o Mutum é uma espécie guarda-chuva, muitas outras espécies vão se beneficiar dessa proteção”, afirma Gustavo Lopes, diretor-presidente do Instituto do Meio Ambiente.
“O projeto teve duas vertentes, o primeiro foi o de criar as aves e o segundo de formar essa rede de apoio”, comenta Azeredo sobre a importância do envolvimento das entidades estaduais e também órgãos federais como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O criador disse ainda que “a força do governador de Alagoas é grande. Tudo o que envolve o governo foi muito importante”, e lembrou ainda que “muito importante também é que envolvemos pesquisadores”, comentou se referindo ao projeto Arca que é capitaneado por Luis Fábio Silveira, professor da Universidade de São Paulo (USP), ligado ao Museu de Zoologia (MZUSP).
O projeto é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e envolve também Universidade Federal de São Carlos (Ufscar).
Em Alagoas o Plano de Ação Estadual (PAE) envolve, além do IMA, o Instituto de Proteção a Mata Atlântica (IPMA), Ministério Público Estadual (MPE), Batalhão de Polícia Ambiental (BPA), Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), Sindicato do Açúcar e do Álcool (Sindaçucar) e Federação das Indústrias de Alagoas (FIEA).