Dia da Caatinga é momento de comemorar o bioma exclusivamente brasileiro

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Forte como o sertanejo e presente em quase todo o semi-árido brasileiro, em Alagoas conta com Unidades de Conservação como instrumento de proteção

Clarice Maia
Fotos: Neno Canuto

Um dito popular é que o sertanejo é um forte. O sertanejo é aquela pessoa que nasce e vive no sertão. Para alguns o sertão é aquele lugar longe, distante e árido. Para outros o sertão é um jeito de viver, um jeito de ser. O sertão e o sertanejo se confundem na forma de ser e de sobreviver. A aridez é marca constante, presente desde o aspecto da sua mais famosa vegetação: a caatinga, batizada pelos antigos moradores que viam nos galhos secos dos períodos de estiagem uma ‘mata branca’.

Nesta terça-feira, 28 de abril, quando se comemora o Dia da Caatinga, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) chama a atenção para a necessidade de preservar o bioma que é exclusivamente brasileiro e ocorre apenas em parte dos estados da Paraíba, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais.

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Preservar o bioma é manter viva a cultura, o jeito de viver do sertanejo. O bioma cobre quase toda a região semi-árida brasileira, conforme dados do Ministério da Integração, que por sua vez é uma das mais chuvosas do mundo, com média pluviométrica de 700 mm/ano. Mas os longos períodos de estiagem e os altos índices de evaporação determinam a chamada seca.

As espécies vegetais que ali vivem em geral têm galhos retorcidos e apresentam raízes profundas. “Durante o período seco a maioria a das plantas perde suas folhas e os troncos apresentam-se secos e esbranquiçados, o que caracteriza uma paisagem aparentemente monótona. A paisagem se modifica totalmente na época chuvosa, quando as plantas florescem e exibem sua riqueza de forma exuberante”, comenta Rosângela Lira, curadora do Herbário MAC.

O sertanejo também parece resignar-se. Mas, basta uma boa chuva para o povo ficar em festa por ver o crescimento das plantações, os animais mais fortes, os barreiros, açudes e cisternas cheios para agüentar a próxima estiagem.

É importante saber que a caatinga não é pobre em espécies, Rosângela Lira conta que estudos recentes confirmam a elevada biodiversidade e endemismos. No Herbário já há inventários florísticos com espécies catalogadas provenientes de diversos trechos com este tipo de vegetação em Alagoas

No estado, a Caatinga pode ser encontrada em toda a chamada região do sertão. Esta pode ser dividida em microrregiões. Conforme dados reunidos no livro Cobertura Vegetal do Estado de Alagoas, produzido pelo IMA em 2010, a microrregião serrana do sertão é formada pelos municípios de Água Branca, Canapi, Inhapi, Mata Grande, Pariconha e possui 18,33% de cobertura vegetal remanescente.

A microrregião do sertão do São Francisco é formada pelos municípios de Delmiro Gouveia, Olho d’Água do Casadao e Piranhas, e registra 20,93% em fragmentos de vegetação remanescentes. Na microrregião de Santana do Ipanema encontram-se os municípios de Carneiros, Dois Riachos, Maravilha, Ouro Branco, Palestina, Pão de Açucar, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema, São José da Tapera e Senador Rui Palmeira, com 19,33% de cobertura vegetal remanescente.

Já a microrregião de Batalha é formada pelos municípios de Batalha, Belo Monte, Jacaré dos Homens, Jaramataia, Major Isidoro, Monteirópolis, Olivença e Olho d’Água das Flores, e abriga 24,41% de cobertura vegetal remanescente.

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Uma das principais ameaças ao bioma é a retirada indiscriminada dos recursos naturais e o desmatamento que se dá para diversos tipos de usos: utilização da madeira para lenha, expansão de pastos e cultivos agrícolas e construção de casas.

Uma das estratégias adotadas pelo IMA para conservar o bioma é a criação de Unidades de Conservação. O estado conta com pouco mais de 1% do bioma protegido em territórios legalmente constituídos para preservação, conforme o que prevê o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. No Brasil, em toda a região semi-árida, apenas 0,28% se encontra protegido em Unidades de Conservação.

O estado conta com o Refúgio da Vida Silvestre dos Morros do Craunã e do Padre, localizada no município de Água Branca, e a Estação Ecológica Curral do Meio e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural Tocaia, Jader Ferreira e a Estância São Luiz, todas localizadas em Santana do Ipanema. Também conta com o Monumento Natural dos Cânions do São Francisco, Unidade federal que engloba parte do estado.

Segundo informações do diretor de Unidades de Conservação do IMA, Ludgero Lima, há pelo menos três áreas em estudo para a criação de novas reservas particulares e outras áreas em estudo para criação de áreas públicas. “Estamos reforçando o trabalho na caatinga e, com isso, poderemos ampliar o número de áreas legalmente protegidas”, disse.