Semana da Água: Pescador local participa de encerramento em Penedo

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Antônio Santos auxilia ambientalistas na compreensão de indicadores sociais, econômicos e ecológicos das regiões banhadas pelo São Francisco 

Elayne Pontual

A programação da Semana da Água, realizada pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA), teve início no dia 22 de março e encerrou nesta sexta-feira (27), em Penedo, com oficinas, palestra, jogos ambientais e peixamento. Um dos destaques das atividades de encerramento foi Antônio Gomes dos Santos, o Toinho Pescador, figura local reconhecida pelo seu trabalho em defesa do Rio São Francisco. Ele participou da mesa de abertura da palestra ministrada pelo ambientalista Fernando Veras.

Ao longo de décadas, Toinho acompanhou de perto a trajetória do Velho Chico e lamenta a degradação que o rio vem sofrendo por conta de ações como o desmatamento das margens, a poluição e a pesca predatória. De acordo com ele, muitos peixes que habitavam as águas do São Francisco desapareceram do local.

“Surubim, pirá, corvina, aracu e um mundo de piaba sumiram. Os filhos dos pescadores hoje não querem mais pescar por conta da falta de peixe, daí a maioria deles vive se drogando na beira do rio”, lamenta.

Natural de Penedo (AL), Toinho tem 83 anos e começou a pescar aos 10, quando seu pai o levava para a beira do rio, às cinco horas da tarde, e os dois voltavam para casa com as sacolas cheias de peixe. Ele lembra que, na época, a margem do São Francisco vivia lotada de pescadores, acompanhados de suas tarrafas e varinhas de anzol.

“Era de um jeito que, se você fosse tomar banho, saia agoniado com as piabas beliscando os pés. É muito triste, mas hoje não temos mais isso. Por esse motivo vivo lutando para levar consciência aos mais jovens, porque sei que, com uma política séria, podemos recuperar o que já foi perdido. Será preciso jejuar, para evitar o pior.”

Aos 12 anos, quando Toinho fazia o quarto ano primário no colégio Gabino Besouro, seu pai faleceu e ele, como primogênito, teve que ajudar a mãe a criar os irmãos. “Foi aí que me tornei pescador profissional”, lembra. Mais tarde, aos 22 anos, o pescador casou-se e teve filhos. Um deles tentou seguir a carreira do pai, mas com a falta de peixe, teve que escolher outra profissão para conseguir sustentar a família.  “Ele agora é vigilante”, conta Toinho.

Importância e reconhecimento

Fernando Antônio Vieira Veras, engenheiro agrônomo, com especialização em ecologia e botânica, fala sobre a necessidade de pessoas como Toinho, para estudos e ações que visam garantir a preservação ambiental.

Segundo Fernando, o pescador antigo é um registro vivo da degradação social, econômica e ambiental das regiões banhadas pelo São Francisco. “Eles conviviam com as mudanças climáticas e sazonais. Eles viveram a época da fartura”, afirma. O ambientalista lembra ainda que Toinho se destaca porque tem o dom da comunicação. “Isso facilita bastante a relação dele com a comunidade”, explica.

Em 2007, Toinho, que, além de pescador, também é poeta, ganhou o prêmio Muriqui, do Conselho Nacional da Biosfera da Mata Atlântica, outorgado a pessoas e entidades por suas atividades em defesa da biodiversidade e conhecimento científico da Mata Atlântica. Em 2010, lançou um livro intitulado “Pescando Cidadania”, que ressalta a importância do São Francisco e critica o projeto de transposição do rio.

“Um dos prêmios que recebi foi visitar o Rio Danúbio e ver como estava a situação por lá. Descobri que a condição deles é pior que a nossa, porque nós aqui ainda temos alguma coisa. Lá a água é preta e nem existem mais pescadores, só criadores de peixe.” Depois da viagem para a Europa, Toinho voltou disposto a lutar ainda mais pela revitalização do São Francisco. “Ainda podemos nos organizar para impedir que nosso rio morra”, alerta.

A relação de Toinho com o Velho Chico vai além da afinidade entre homem e natureza, a ligação tem raízes na infância, quando o pescador, ainda criança, perdeu o pai. “Lembro muito bem quando minha mãe disse assim: ‘meu filho, nós vamos morrer de fome.’ Então eu pedi pra ela ter fé, porque eu confiava no São Francisco. E eu estava certo, o rio nos sustentou por muitos anos. Ele foi um pai para nós.”